Guia de Viagens para Marte

Um dos assuntos ou lugares mais visitados pela imaginação dos autores de ficção científica no último século é o nosso planeta visinho, Marte. Na segunda metade do século XIX, o astrônomo italiano Schiaparelli, com os equipamentos rudimentares da época pensou ter visto linhas retas, ou canais na superfície do planeta, o que reforçou a crença de que existiriam rios, oceanos, florestas e uma outra civilização por lá. Desta crença equivocada, surgiram centenas de histórias fantásticas de povos pacíficos ou prestes a invadir nossa terra, os alienígenas de coloração esverdeada e antenas com uma arma desintegradora na mão. Nas décadas de 60 e 70, as naves Mariners 4, 6 e 7 jogaram todas estas especulações por água abaixo, mostrando imagens de um planeta frio e morto e coberto de poeira de ferro, cenário um tanto familiar para quem já visitou as minerações nas redondezas de Belo Horizonte.

A humanidade teve que aguardar mais de duas décadas para que uma nova onda de entusiasmo, decorrente das novas imagens que a sonda MGS (Mars Global Surveyor), que orbitou e fotografou Marte durante 5 anos, nos forneceu, mostrando uma paisagem muito mais complexa e variada. Mais recentemente, os carrinhos de controle remoto da Nasa possibilitaram um novo ponto de vista, impressionante da paisagem marciana: as fotos coloridas de alta resolução que das duas sondas Spirit e Oportunity fazem parecer que estamos lá, andando pelas dunas e formações de Marte.

Ao longo do século XX, e à medida que se sabia mais do planeta vermelho, alguns autores escreveram sobre as possibilidades de se visitar e, eventualmente habitar Marte. O primeiro livro considerando as implicações da colonização de Marte que eu li foi o Crônicas Marcianas do Ray Bradbury, que em minha opinião, ainda é um dos clássicos da ficção de todos os tempos. O livro é organizado como uma coletânea de contos, em ordem mais ou menos cronológica, e conta histórias sobre os primeiros passos, o amadurecimento de uma colônia, um eventual encontro com vida em Marte e as implicações de se colonizar um outro planeta. A colonização de Marte foi usada por Bradbury, como é típico em sua obra, como pretexto para uma análise dura da condição humana e uma crítica de nossa civilização.

Na década de noventa, alguns autores propuseram ficções baseadas num maior conhecimento do quarto planeta do nosso sistema solar e também em monografias prospectivas com o planejamento futuro realizado pelos cientistas da Nasa. Uma boa novela, de hard sci-fi (ficção científica mais tecnológica e baseada em dados científicos atuais) é o Mars do autor Bem Bova e sua seqüência Return to Mars.

Mas de todos os livros de ficção sobre o assunto, os mais interessantes e completos que conheço, são os da trilogia Red, Green e Blue Mars de Kim Stanley Robinson. A série descreve a colonização a partir de uma primeira nave com 60 tripulantes e conta em detalhes os recursos, equipamentos, dificuldades e o desenvolvimento social da colônia. Uma idéia interessante bem desenvolvida nestas novelas, é a terraformização de Marte, ou a sua gradativa transformação para se tornar um lugar menos inóspito para a vida. Robinson utilizou de todo o conhecimento científico disponível e muita imaginação para criar uma narrativa bem convincente. A série ganhou os prêmios Hugo e Nebula que são os mais importantes de ficção cientifica.

No campo da não-ficção, o livro The Case for Mars é um guia passo a passo do que deve ser feito durante a exploração de marte. Ele cobre todos os problemas e perigos relacionados à viagem espacial, os primeiros assentamentos, as técnicas para extrair recursos minerais e propõe soluções para eventuais dificuldades encontradas pelos colonos, com vários diagramas para a construção de domos e outras habitações, incluindo tabelas e gráficos.

O Traveler´s Guide to Mars – The Mysterious Landscapes of the Red Planet, que foi escrito por um especialista em geologia Marciana, descreve em detalhes a nomenclatura, as paisagens e formações rochosas, contando um pouco sobre a evolução do planeta desde quando a água corria pela superfície até o período atual. O material visual veio principalmente da missão de 2001, Mars Global Survey.

Mas o livro mais bonito que eu tenho sobre marte é o Postcards from Mars, que é o relato fotográfico das sondas Spirity e Opportunity, que passaram mais de um ano andando pela superfície do planeta. O livro é cheio de fotos de página inteira, mostrando as rochas e dunas avermelhadas contra o céu laranja/branco.

O astrônomo William Hartmann escreveu que o século XXI será o século da exploração de Marte. Acho que se o mundo não se explodir em guerras ou pela destruição do equilíbrio natural, esta é uma bela possibilidade. Em minha opinião, a exploração de marte faz parte de um desenvolvimento natural da melhor faceta do espírito de exploração, engenhosidade e curiosidade humana e pode mudar nossa perspectiva sobre as diferenças que nos parecem tão inconciliáveis: lá de longe, o nosso planeta Terra parece um pontinho.

Para quem já quiser planejar a viagem:

http://marsrovers.nasa.gov/home/index.html (lindas fotos da Nasa dos Rovers em Marte)

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